Finalizamos nossa série dedicada as Técnicas de Amostragem. Hoje vamos falar de uma técnica conhecida como bola de neve (snowball sampling).
A amostra por bola de neve é uma técnica de amostragem não probabilística onde os indivíduos selecionados para serem estudados convidam novos participantes da sua rede de amigos e conhecidos. O nome de "bola de neve" provem justamente desa ideia: do mesmo modo que uma bola de neve rola ladeira a baixo, cada vez mais ela aumenta seu tamanho. O mesmo ocorre com a essa técnica amostral, ela vai crescendo a medida que os indivíduos selecionados convidam novos participantes.
A bola de neve é usada com frequência para acessar a populações de baixa incidências e indivíduos de difícil acesso por parte do pesquisador.
Quando você deseja estudar um grupo específico (por exemplo, colecionadores de selos), pode ser muito mais eficaz obter uma amostra através de conhecidos e amigos dos colecionadores, do que uma seleção puramente aleatória, onde um grande número de indivíduos podem ser descartados. Supostamente, é provável que um colecionador de selos conheça outros colecionadores de selos, o que torna esta técnica uma maneira eficaz para acessar a pessoas que poderiam ser inacessíveis para o pesquisador.
Portanto, a técnica de bola de neve funciona muito bem quando queremos agrupar indivíduos e favorecer seu contato social. É mais comum do que parece. Obviamente, colecionadores, profissionais ou praticantes de algum esporte específico podem cumprir com essa premissa, mas também se aplica a outros grupos, como pacientes com uma doença rara, por exemplo, como suas circunstâncias pessoais fazem com que entrem em contato com outras pessoas com a mesma característica (no consultório do médico, em associações, etc).
Processo
O processo de criação de uma amostra por bola de neve se fundamenta em usar a rede social dos indivíduos iniciais para ter acesso ao coletivo. Podemos dividir esse processo nos seguintes passos:
- Definir um programa de participação, onde os indivíduos convidam outros membros.
- Identificar grupos ou organizações que podem fornecer acesso a alguns indivíduos iniciais que cumpram com a característica do estudo.
- Após obter os contatos iniciais, precisamos pedir sua participação. Esta parte seria similar a uma técnica de amostra convencional, porém destinada a obter um tamanho de amostra reduzida.
- Posterior a primeira entrevista, solicitamos aos participantes o acesso aos outros convidados.
- Assegurar a diversidade dos contatos através da seleção adequada dos indivíduos iniciais e promover que a recomendação não se limite apenas a contatos próximos.
Tipos de amostra bola de neve
Basicamente podemos identificar dois tipos de amostra por bola de neve:
- Amostra lineal: Cada indivíduo participante deve recomendar outro indivíduo, de forma que a amostra cresça num ritmo linear.
- Amostra exponencial: Cada indivíduo precisa convidar dois ou mais indivíduos a participar da amostra. Dessa forma, quanto mais gente participar do estudo, mais pessoas serão adicionadas.
Vantagens e inconvenientes
As principais vantagens dessa técnica são:
- Realizar amostra populações de difícil acesso.
- É um processo econômico e simples.
- Requer planejamento e poucos recursos humanos: os próprios entrevistados fazem a mão de obra.
A respeito dos inconvenientes:
- Falta de controle sobre como se constitui a amostra, já que está nas mãos dos próprios respondentes e seu critério para selecionar os indivíduos.
- Como toda técnica não probabilística, a bola de neve não garante a representatividade, nem permite saber o grau de precisão.
- Esta técnica é especialmente sensível ao vieses de amostragem. Dado que os participantes são obtidos pelo convite de outros indivíduos, eles compartilham certas características do estudo. O único inconveniente é que amostra não será suficientemente diversa.
- Tamanho da amostra incontrolada: a técnica não permite determinar com precisão o tamanho da amostra que vamos obter.
Outras considerações
Sem dúvida, o principal problema da bola de neve é o risco dos "vieses da comunidade": acessamos a um subgrupo de indivíduos dentro do nosso target e o recrutamento de novos membros não consegue sair desse subgrupo. O único remédio contra esse mal é fazer uma boa seleção inicial de indivíduos, que nos garante que qualquer subgrupo existente seja acessível na rede de contatos dos indivíduos iniciais.
Vale destacar que essa técnica, muitas vezes, é a única técnica possível quando nos dirigimos a grupos pequenos onde não é possível ter um quadro amostral. Muitos pesquisadores estão trabalhando para aperfeiçoar a técnica para corrigir os seus vieses. Especificamente, uma das técnicas mais promissoras é conhecida como Respondent Driven Sampling. Trata-se de um sistema que corrige mediante a um modelo matemático alguns possíveis vieses na seleção dos indivíduos.
Com esse post, finalizamos a série de posts dedicados as técnicas de amostragem. Esperamos que tenha uma grande utilidade!
Qualquer dúvida, por favor, escrevam comentários que nossa equipe irá ajudá-lo!
ÍNDICE: Série "Amostragem"
- Amostragem: O que é e por quê funciona
- Amostragem probabilística e não probabilística
- Amostragem probabilística: Amostar aleatória simples
- Amostragem probabilística: Amostra estratificada
- Amostragem probabilística: Amostra sistemática
- Amostragem probabilística: Amostra por conglomerados
- Amostragem não probabilística: Amostra por conveniência
- Amostragem não probabilística: Amostra por quotas
- Amostragem não probabilística: Amostra por bola de neve